O chamado para cuidar de todas as pessoas que estão às margens da sociedade é fundamental para vivermos nossa missão enquanto seguidores de Cristo.
O desinvestimento, e o processo e o engajamento público que ele envolve, são formas de redefinir o código moral da sociedade. Nesta perspectiva, o desinvestimento não se resume às instituições religiosas manterem sua própria integridade ou responderem a uma resistência obstinada. Trata-se de deslegitimar e desnaturalizar a indústria alvo, criando um divisor de águas moral na sociedade e encorajando ou pressionando os líderes políticos para que abordem as questões que eles antes evitavam.
A chave para compreender o desinvestimento é um fato simples: o carvão, o petróleo e o gás – considerando somente os empreendimentos que já estão em produção atualmente –
são tão impactantes que as emissões que eles produzem já ultrapassarão pesadamente o limite máximo de 2ºC para o aquecimento global que foi acordada por todos os governos nas negociações climáticas, o que dirá da meta de 1,5ºC colocada pelo Acordo Climático de Paris.
Ainda que eles conheçam muito bem os danos que estão causando, a indústria dos combustíveis fósseis ainda está procurando por mais carvão, mais petróleo e mais gás para queimar. Cada operação de perfuração exploratória, cada nova permissão para um novo campo de extração de gás ou nova mina são atos irresponsáveis que colocam a todos nós em risco.
O que os números deixam claro é que a o modelo de negócios da indústria dos combustíveis fósseis está em um conflito fundamental com a vida na Terra. A única resposta moral possível é retirar nosso consentimento, desinvestindo destas empresas que estão arriscando o futuro do nosso planeta.
Veja as principais citações do Papa Francisco sobre o meio ambiente:
A “Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum” é claramente um marco significativo. A Laudato Si’ explora as várias dimensões da destruição ambiental em nosso mundo, mas, assim como em todo o ensino social católico, a principal preocupação é com a justiça.
O aquecimento global é um tema abordado com frequência pela encíclica. “Tornou-se urgente e imperioso o desenvolvimento de políticas capazes de fazer com que, nos próximos anos, a emissão de dióxido de carbono e outros gases altamente poluentes se reduza drasticamente, por exemplo, substituindo os combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável.” (Parágrafo 26)
“Sabemos que a tecnologia baseada nos combustíveis fósseis – altamente poluentes, sobretudo o carvão mas também o petróleo e, em menor medida, o gás – deve ser, progressivamente e sem demora, substituída. (…) A política e a indústria reagem com lentidão, longe de estar à altura dos desafios mundiais.” (Parágrafo 165)
Não só as indústrias têm “reagido com lentidão”: o Papa refere-se também à distorção internacional das informações por parte da indústria dos combustíveis fósseis com a intenção de influenciar nas negociações climáticas. “A submissão da política à tecnologia e à finança demonstra-se na falência das cúpulas mundiais sobre o meio ambiente. Há demasiados interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum e manipular a informação para não ver afetados os seus projetos.” (Parágrafo 54)
O Papa Francisco elogia grupos de cidadãos e organizações não-governamentais que militam pelo cuidado com o meio ambiente. Ele defende os boicotes de consumidores que “conseguem que se deixe de adquirir determinados produtos e assim se tornam eficazes na mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção. É um facto que, quando os hábitos da sociedade afetam os ganhos das empresas, estas vêem-se pressionadas a mudar a produção. (…) ‘Comprar é sempre um ato moral, para além de econômico.’” (Parágrafo 206)
Na questão dos investimentos alternativos e éticos, “[o]s esforços para um uso sustentável dos recursos naturais não são gasto inútil, mas um investimento que poderá proporcionar outros benefícios econômicos a médio prazo.” (Parágrafo 191)
Nessa encíclica papal, o Papa Francisco não aborda explicitamente as questões de investimento ético, mas certas conclusões podem ser retiradas dos numerosos ensinamentos do texto. Eles formam uma base sólida para propor que tanto o desinvestimento dos combustíveis fósseis e o investimento em baixas emissões de carbono são as alternativas mais éticas para aqueles que têm dinheiro para investir.
Em junho de 2015, a universidade jesuíta Georgetown tornou-se a segunda universidade católica após a Dayton a tomar a decisão de desinvestir, retirando seus investimentos das empresas cujo interesse primário é a mineração de carvão.[1]
A lista completa de organizações católicas que tomaram algum tipo de decisão de desinvestimento dos combustíveis fósseis até 18 de junho de 2016 é:
Quatro ordens religiosas na Austrália:
Há campanhas de desinvestimento organizadas por alunos de diversos campi, inclusive o Boston College e a Fordham University. Acadêmicos de várias instituições católicas demonstraram um interesse ativo.
Os Arabella Advisors criaram um belo recurso chamado Assets in Action (em português: Ativos em Ação) com estudos de caso detalhados de organizações católicas que escolheram retirar seus investimentos dos combustíveis fósseis. Elas são as Irmãs Franciscanas de Maria e a Universidade de Dayton.